Preto e Branco

Maio 27, 2009

Alberto Monteiro

Alberto Monteiro

Desta vez, e ao contrário do que tem vindo a ser habitual, sinto-me na obrigação de escrever este artigo na primeira pessoa. Tomei essa liberdade, porque o tema que pretendo abordar provém de uma opinião bastante pessoal, com algum fundamento histórico e científico é certo, mas principalmente porque exponho a minha mais sincera opinião sobre um dos formatos daquela que é, para mim, uma das maiores formas de arte: a Fotografia. Leia o resto deste artigo »

Alberto Caeiro – O mestre

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Alberto Caeiro é o poeta das sensações, o pastor dos seus próprios sentidos. Poeta da natureza… de tudo o que o rodeia. Foram a partir dessas directrizes que eu desenvolvi esta composição visual, tentando recriar (simbolicamente) a visão de Caeiro. Leia o resto deste artigo »

Ao tentar encontrar alguma inspiração (e expiração) para a proposta sobre tipografia, que ainda tenho que realizar, “tropecei” num site que promove um documentário bastante interessante : os 50 anos da HELVETICA.

Ou a temática não fosse tipografia….

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FlashBack

Há várias circunstâncias que explicam o boom social e cultural vivido na década de 60 nos Estados Unidos da América, no entanto, é no passado que se encontra os motivos dessa “revolução”. Os anos 50 traziam ainda à memória os tempos da guerra que atemorizavam uma sociedade fragilizada e com feridas ainda por sarar do último grande conflito, quando o mundo se confronta com uma nova crise ideológica: a Guerra Fria. Novas ideologias políticas divergentes causam um conflito psicológico entre os dois principais vencedores da 2ª Grande Guerra, o capitalismo e comunismo. E o medo de um novo conflito mundial volta a pairar no ar…

O conflito psicológico ganha corpo quando em 1961 é criado o Muro de Berlim, numa altura em que John Fitzgerald Kennedy é o mais jovem presidente dos Estados Unidos da América, tendo uma passagem curta mas mediática devido ao assassinato durante uma campanha eleitoral em 1964. No entanto, é com a guerra do Vietname e consequente combate ao comunismo que a revolução social ganha voz. A violência das imagens captadas pelos meios de comunicação norte-americanos mostravam à sociedade os horrores vividos pelos soldados americanos, bem como o sofrimento do povo vietnamita, incapaz de fugir aos confrontos entre vietcongs e as forças comandadas por norte-americanos. A guerra não fazia sentido, o povo exigia o retorno dos seus filhos.

É sob estas circunstâncias que a sociedade norte-americana vê razões para contestar as medidas tomadas pelos seus chefes políticos, encontrando na arte (design, música, etc…) a melhor forma de expressão dos seus protestos. O aparecimento dos hippies, culminando de novos pensamentos por parte da juventude seiscentista face às consequentes crises que afectam o mundo, é a prova disso mesmo. A guerra do Vietname, o nacionalismo, o imperialismo ou o capitalismo são algumas das causas que os levavam a protestar, seja através de manifestações ou expressões artísticas, nomeadamente a música. E é com o advento de novas bandas de ímpeto revolucionário e festivais de música como forma de protesto que o consumo de drogas entre os jovens aumenta de forma exponencial, na chamada contracultura dos anos 60, criando uma nova forma de produção artística: a arte psicadélica. Esta forma de arte encontra-se, de certa forma, associada ao consumo de droga, ou seja, a inspiração resulta das alucinações criadas por uma substancia que surgiu nos anos 60, acidentalmente pelas mãos de Albert Hofmann, o LSD. Este estilo artístico, rico em cor, referência e efeito, sugeria a libertação da imaginação através de gráficos complexos que, criando ilusões de óptica, tornam a sua legibilidade algo reduzida. E é nesta altura que faz sentido analisar alguns dos trabalhos mais carismáticos desta corrente artística pelas mãos de uns dos mais conhecidos designers gráficos da época: Robert Wesley Wilson.

A teoria na prática

«A verdadeira espontaneidade, porém, parece ter origem no facto de trabalhar segundo as regras, mas não ficar limitado por elas.» Edward Johnston

Ao visualizar os diferentes posters de Wes Wilson, é possível identificar algumas das características da Teoria de Gestalt. Rapidamente, a Teoria da Forma ou Teoria de Gestalt surge no início do século XX e o seu estudo debruça-se sobre as percepções visuais do ser humano, ou seja, os princípios e processos da formação das imagens no nosso sistema óptico. Assim, e analisando alguns posters deste autor, é possível encontrar algumas das várias leis (ou princípios) da Teoria de Gestalt, sejam elas de forma mais ou menos evidente. A proximidade, a semelhança, a continuidade são alguns dos mais evidentes, quer pelo efeito que o bloco textual produz quando se visualiza o poster de uma forma geral – fundindo-se e adaptando a sua forma aos outros elementos visuais, tornando-se parte de uma imagem maior (proximidade), quer pela capacidade da percepção da visão humana em identificar esse bloco de texto podendo mesmo lê-lo, com maior ou menor dificuldade, mas identificando-os pela sua semelhança ou padrão. Ou ainda pela forma que o texto adquire em função de imagem “maior”, ou seja, o tipo de letra é forçosamente alterado para que homogeneização de toda a imagem não seja comprometida. Para isso, é necessário ir ao caracter e adapta-lo correctamente: dar-lhe uma forma, posição e direcção adequadas para que o resto dos caracteres envolvidos nesse bloco cumpram as directivas dos caracteres anteriores e assim formem uma imagem ou complementem uma já existente (continuidade).

«O grau de legibilidade de uma fonte depende totalmente do criador da fonte, ao passo que a facilidade de leitura deriva, em grande parte, da competência do tipógrafo.» (David Jury, 2006:82)

Resumindo: são notórios os princípios da Teoria de Gestalt nos vários trabalhos de Wes Wilson. Aliás, e não tivesse sido ele um estudante de psicologia, esses trabalhos descrevem com um relativo grau de legibilidade alguns dos princípios da Teoria da Forma, “brincando” também um pouco com os diferentes elementos de comunicação visual (a forma, a cor, a escala, o movimento, etc…), criando composições visuais de grande nível de detalhe, complexidade… e alucinação.

“Para o tipógrafo, cada nova mensagem apresenta um problema único. A escolha da fonte, corpo, ajustamento e disposição não pode ser arbitrária. É imprescindível adequar o tipo ao fim a que se destina.” (David Jury, 2006:16)

Os trabalhos de Robert Wesley Wilson contêm bastante informação textual e, na minha opinião, o autor conseguiu, utilizando a corrente artística da altura, criar grandes composições visuais sem nunca comprometer totalmente a informação, visto que a sua “tela” era um meio de comunicação. No entanto, e tipograficamente, é possível afirma-se que o legibilidade é fortemente afectada, apesar do uso de um tipo de letra bastante legível e moderna (quando não alterada).