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A música, à qual eu me propus a tentar criar uma composição visual, pertence ao grupo “Dead Combo”. Dois bons rapazes portugueses que, com um estilo musical muito próprio, criam autênticas peças musicas de excelente qualidade. Avé Carlos Paredes…


Escutar, racionalizar e compor. De uma forma muito genérica, estas foram as três principais fases do meu trabalho. E digo “racionalizar” porque eu não tenho qualquer tipo de empatia especial por esta composição sonora. Bem sei que, por vezes, aquilo que no momento nos vai na alma é muito importante para o desenrolar de uma atitude, de um movimento, de um traço ou tom. E que esse mesmo acto é o que pode tornar o nosso trabalho mais genuíno, mais íntimo, mais nosso… inigualável. No entanto, eu decidi “parar para pensar”.

Neste sentido, com esta composição eu tentei representar todos os instrumentos presentes durante a música, utilizando os elementos básicos de comunicação visual como meio de identificação das diferentes melodias e instrumentos. Porque, e segundo as palavras de Bruno Munari “A comunicação é pois, em certos casos, um meio insubstituível que permite a um emissor passar as informações a um receptor, sendo condições fundamentais do seu funcionamento a exactidão das informações, a objectividade dos sinais, a codificação unitária e a ausência de falsas interpretações”. Desta forma, e após algumas experiências menos conseguidas, seleccionei apenas um elemento base, que considero o que mais se adequa ao que tento criar e transmitir. No entanto, a sua distinção é demarcada pelas diferentes propriedades que asseguram a forma dos distintos instrumentos utilizados – a cor, a escala, a tonalidade, a intensidade – para, de forma adequada, criar no receptor uma ideia clarificada (e colorida) do conjunto de tons, notas e cadências usadas pelos diversos instrumentos nesta fantástica composição musical.

E como o mote é racionalizar, penso que é importante salientar o método utilizado para a elaboração desta composição visual, onde tive o principal cuidado de tentar clarificar ao máximo a mensagem que pretendo transmitir. Assim, defini como questão central a mensagem propriamente dita, ou seja, o meu objectivo fundamental. Depois, e com a mensagem já delineada, decidi utilizar as ferramentas digitais ao meu dispor, nomeadamente o computador e algum software de desenho vectorial, já que há vários anos que trabalho neste tipo de plataforma. Por fim, tentei explorar o espaço, determinado previamente pela proposta de trabalho, para assim tentar criar alguns efeitos na conjugação espaço/elementos. Sempre com a ideia focada na mensagem.

Desta forma, decomponho, ordenadamente, a minha composição para uma melhor compreensão do produto final…

1. O ritmo na palma da mão

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Toda a composição é formada pelo mesmo objecto, um rectângulo. Mas, neste caso, o que distingue os vários rectângulos é a sua forma, porque há momentos em que um bater de palmas é mais intenso do que outro. Ou seja, rectângulos mais largos bater de palmas mais alto, rectângulos mais finos bater de palmas mais curtos e sequenciais. Quero ainda salientar que a repetição, ou ciclo de um conjunto de formas, é intencional já que só assim se determina o ritmo de uma música.

2. O contrabaixo

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Mais uma vez o rectângulo. Mas neste caso, e na minha modesta opinião, o som audível é mais grave, no entanto, parece-me mais “longo” já que se trata claramente de um instrumento de cordas. A cor é-me sugerida pela “intensidade” do tom: grave, quente, sem nunca comprometer o ritmo já imposto pelas palmas. Dessa forma, reduzi a intensidade da cor para ser possivel visualizar, mesmo quando sobreposta, as palmas.

O espaço branco

Este tópico faz sentido nesta ordem porque quando iniciei o meu trabalho, e após ter escutado várias vezes a música em questão, a única certeza que tinha era a cor do espaço a utilizar. E para mim o som “levava-me” a escolher o preto como cor de fundo. No entanto, e depois de já ter desenhado algumas das formas, reparei que afinal o preto tornava a minha composição pouco legível, ou seja, muito escura não deixando salientar o elementos como eu pretendia.

3. O segundo tom do contrabaixo

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Assim caracterizo o segundo tom do contrabaixo nesta composição musical dos Dead Combo. A tímidez com que surge entre o dedilhar da guitarra e a cadência do primeiro tom deste instrumento, num estilo triste, mas ainda assim algo grave e suave ao mesmo tempo. Aparecendo em segundo plano, e apenas uma ou duas vezes, permitindo a percepção dos outros instrumentos (baixa opacidade).

4. A virtuosidade da guitarra

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A guitarra é livre. Assume as despesas na hora de improvisar, de embelezar ou dar forma a um ritmo sem nunca comprometer o resto dos instrumentos. Nesta composição musical, e apesar de se encontrar perfeitamente sincronizada com o ritmo, parece ser um instrumento que define a carga emocional da música, que “entra” quando quer e estabelece uma posição perante os demais. É isso que tento transmitir nesta parte da composição visual. A intensidade inicial que se vai desvanecendo com o eco e com o abrandar da corda (o desvanecer da cor, com intensidade no centro e perdendo veemência à medida que se prolonga – sensação de dinamismo).
Relativamente à cor, usei uma que se destacasse das outras, mesmo quando o tom da guitarra é diferente. Ou seja: mais intenso no inicio (azul escuro), mais suave já no final da música (azul claro).

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A circunferência perfeita

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Neste espaço decidi dar continuidade à ao que criei na primeira fase: o término da música. Assim, e com o resto dos objectos em pleno desvanecer (tal como a música), decidi utilizar a área disponível para criar um efeito de profundidade, ao mesmo tempo que a música termina. Dando a ligeira sensação de movimento, percorrendo o “túnel” à medida que a música se aproxima do silêncio final.